Saiba mais sobre o papel dos rins no nosso organismo, sobre a doença renal
crónica e sobre a importância da adoção de hábitos saudáveis para combater
esta doença, num artigo redigido no âmbito da parceria das clínicas Diaverum
com o Continente.
A função dos rins
Os rins são essenciais para o bom funcionamento do organismo. Entre as suas principais funções destacam-se a eliminação de resíduos e de compostos resultantes do metabolismo, o controlo da tensão arterial e da quantidade de água corporal, de sódio, potássio, cálcio, fósforo (entre muitos outros), do pH do sangue.
Auxilia ainda na produção e regulação de hormonas importantes, por exemplo, para a ativação da vitamina D e para a estimulação da produção de glóbulos vermelhos.
Adicionalmente, é um órgão com um papel importante no metabolismo dos nutrientes e, por isso, no equilíbrio nutricional do organismo.
A função renal e os estilos de vida
Os rins são órgãos que, pelas suas funções, são muito sensíveis aos estilos de vida, nomeadamente aos hábitos alimentares desajustados, aos hábitos tabágicos e ao stresse e a patologias muito frequentes, como a diabetes mellitus, a hipertensão arterial e a obesidade. Estes são os principais fatores de risco para o desenvolvimento de doença renal crónica (DRC).
A doença renal crónica desenvolve-se à medida que os rins vão perdendo a capacidade de compensar o impacto destes fatores, com a perda progressiva e irreversível da função.
Nos estádios mais avançados da doença renal crónica há incapacidade dos rins em desempenharem as suas funções adequadamente, levando à acumulação de líquidos e de toxinas, aparecimento de anemia, hipertensão arterial, entre outros problemas.
Quando a redução da função renal é grave (estádio 5), poderá ser necessário recorrer a terapêuticas substitutivas da função renal, como a hemodiálise, a diálise peritoneal ou o transplante renal.
A nível mundial, Portugal é dos países com maior incidência e prevalência de DRC.
A alimentação representa uma fatia muito grande na doença renal crónica, pelo que são necessários alguns cuidados que variam consoante o estado da doença.
Durante a Progressão da Doença Renal Crónica
Nos estádios iniciais da doença renal crónica, em que o decréscimo da função é ligeira-moderada, os rins têm a capacidade de compensar e desempenhar a sua função, embora com maior esforço.
Para proteger a função renal e contribuir para uma evolução mais lenta da DRC, é importante que nesta fase se adotem hábitos saudáveis como, por exemplo:
- Reduzir a ingestão de sal, de gordura saturada e de colesterol;
- Manter uma boa hidratação;
- Adequar a ingestão energética;
- Manter uma adequada atividade física;
- Evitar a obesidade;
Nos diabéticos, a dieta adaptada e o controlo da glicemia sanguínea serão fundamentais.
Com a progressão da DRC e quando a redução da função é significativa é necessário continuar a adequar a alimentação para contribuir para a conservação da função renal restante, pelo maior tempo possível.
Nesta fase, é recomendado um acompanhamento nutricional individualizado com um plano alimentar com controlo/redução da ingestão de proteína, sal e, eventualmente, fósforo e potássio.
Por outro lado, é importante assegurar uma ingestão adequada de energia pois há um elevado risco de desnutrição devido, por exemplo, à redução do apetite.
Na hemodiálise
A hemodiálise é um dos tratamentos substitutivos da função renal disponíveis para os doentes renais crónicos, quando existe falência grave da função renal.
Este tratamento substitui parcialmente a função dos rins na depuração (purificação) do sangue e tenta manter a máxima qualidade de vida possível.
Como a capacidade de remoção das toxinas (ureia, fósforo, potássio, entre outras) e do excesso de líquidos pelo tratamento de hemodiálise não é igual à dos rins, são necessários cuidados alimentares específicos que fazem parte importante do tratamento.
- Proteína e energia
É necessário ingerir uma quantidade adequada de proteína e de energia para compensar o aumento das necessidades associadas à doença e ao tratamento, e para reduzir o risco de desnutrição proteica-energética. - Potássio
É fundamental controlar a quantidade de potássio ingerido, pois a sua acumulação no sangue em níveis elevados poderá levar a fraqueza muscular e até a paragem cardíaca.
O potássio é um mineral existente principalmente nos alimentos de origem vegetal (frutos, vegetais, leguminosas e oleaginosas). Assim, para evitar a elevação dos níveis no sangue, deverão ser evitados os alimentos com maior quantidade, como a banana, o abacate, o tomate, a laranja, o melão, a batata, a couve-galega, etc.
Durante o processo de preparação dos alimentos, certos cuidados, como o demolhar ou cozer em duas águas (rejeitando as águas de demolha), ajudam a reduzir o teor de potássio. - Fósforo
Também é necessário controlar a quantidade de fósforo ingerido, pois a manutenção de níveis fósforo no sangue sempre elevados leva a alterações no metabolismo do osso, a calcificação dos tecidos moles e a problemas cardiovasculares.
O fósforo é um mineral existente nos alimentos de origem animal, nas leguminosas (feijão, grão, ervilhas, etc.), oleaginosas (amendoim, amêndoas, nozes, etc.) e nos aditivos alimentares cuja ingestão deve ser moderada a reduzida.
Este mineral é absorvido de forma diferente, dependendo da sua fonte. O fósforo inorgânico presente nos aditivos alimentares dos produtos processados, como o ácido fosfórico (E338) e fosfato de sódio (E339), é absorvido quase na sua totalidade, pelo que estes produtos devem ser evitados.
- Sal e líquidos
A capacidade do organismo em controlar a sede e o seu estado de hidratação está alterada, uma vez que a produção de urina poderá ser muito reduzida ou inexistente e o tratamento de hemodiálise tem uma menor capacidade de remover a água do que os rins saudáveis.
Assim, poderá haver o risco da acumulação de uma grande quantidade de líquidos no corpo com o desenvolvimento de edema e hipertensão, e até de complicações mais graves, como o edema agudo do pulmão.
Por esta razão, é importante controlar a sede, reduzir ao máximo a ingestão de sal (sódio) e controlar a ingestão de líquidos.
Diabetes
Cerca de um terço das pessoas em tratamento de hemodiálise são diabéticas, pelo que a par dos cuidados anteriormente referidos, é importante que a intervenção nutricional seja orientada para o controlo da diabetes.
Na diálise peritoneal
A diálise peritoneal é outro tratamento substitutivo da função renal. Neste tratamento, a filtração do sangue é feita pelo peritoneu (membrana existente no abdómen).
À semelhança da hemodiálise, a capacidade de remoção das toxinas e do excesso de água pela diálise peritoneal não é igual à dos rins. Desta forma, serão também necessários cuidados nutricionais específicos, em parte semelhantes aos referidos na hemodiálise.
Transplante renal
O transplante de rim é o tratamento de eleição para a substituição da função renal, em que o rim doado permitirá recuperar uma função renal adequada.
No entanto, para que o transplante decorra como previsto, será necessário cumprir a terapêutica farmacológica prescrita, adotar cuidados de higiene e segurança alimentar, assim como estilos de vida e hábitos alimentares saudáveis que contribuam para a preservação da função do rim doado.
A dieta mediterrânica é caraterizada por um consumo:
- Elevado de vegetais, leguminosas, fruta, sementes e oleaginosas, cereais e azeite;
- Frequente de peixe e moderado a reduzido de produtos lácteos;
- Reduzido ou menos frequente de gordura saturada e de carne;
- Regular, mas reduzido, de vinho tinto.
Este padrão poderá ser um bom aliado na prevenção de muitas das condições, como o excesso de peso/obesidade, a hipertensão arterial, a diabetes e a dislipidemia que são fatores de risco para o desenvolvimento da doença renal crónica.
Em caso de dúvida sobre o estado da sua função renal, consulte o seu médico assistente.