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A Tristeza das Cadeiras Vazias

O meu pai queria sempre que estivéssemos todos à mesa. "Não é preciso falar", dizia, "só queria que lá estivessem".

Miguel Esteves Cardoso

Escritor e Jornalista

Publicado a 21/11/2025

Às vezes íamos contrariados. Ele não se importava. Era à mesa que podia olhar para nós, ver como estávamos e, infalivelmente, fazer perguntas incómodas.

À volta da mesa, estamos não apenas presentes: estamos presos. A única coisa que podemos fazer é levantarmo-nos e ir embora. Mas não sem fazer escândalo, claro. Para não fazer escândalo, o melhor teria sido não termos ido.

As pessoas falam da alegria das refeições em família, mas esquecem-se das tristezas. Das vezes em que alguém não fala. Das vezes em que um de nós está esquisito: sorumbático, ou muito agitado, ou até estranhamente bem disposto.

Os neurologistas dizem que antes de abrirmos a boca, já nos tiraram as medidas, pela maneira de entrar no consultório, de andar, de olhar para o médico, de sentar.

As famílias fazem o mesmo. Não é preciso falar. Não há quem se conheça tão bem, e há tanto tempo: basta olhar para a cara da mãe ou do filho ou da irmã.

O estudo do Continente e da Associação Portuguesa de Nutrição sobre os hábitos de mesa das famílias portuguesas é dos documentos mais interessantes que tenho lido.

Tem uma leitura alegre (gostamos de refeiçoar em casa, com a nossa família) e uma leitura triste (almoçamos e jantamos mais vezes sozinhos do que gostaríamos).

Mas vêm dar ao mesmo: a mesa é, ao mesmo tempo, uma obrigação muito chata e a melhor desculpa que há para juntar a família.

É à mesa que nos conhecemos. É à mesa que cada um de nós desenvolve as particularidades que nos tornarão diferentes do resto da nossa família.

É falando de comida que falamos. O mais das vezes, pode parecer que estamos a falar de comida, mas estamos a falar de outras coisas, ainda mais importantes.

Pode ser invasivo - e até difícil - mas faz-nos bem olharmos uns para os outros, e ouvir o que os outros dizem, apesar de não estarmos interessados.

É à mesa que uma família é uma família.

É por isso que fugimos dela sempre que podemos, e depois nos arrependemos de fugir, e depois não descansamos enquanto não estivermos todos outra vez à mesa.

Ainda bem que é assim.
MEC, Novembro 2025