Sempre que família se juntava nas férias de verão , a avó preparava a jardineira de vitela. Era um daqueles pratos que não precisavam de apresentação: bastava o cheiro a invadir a casa para toda a gente saber que o almoço ia ser especial.
Ela começava logo cedo, ainda com a casa envolta no silêncio da manhã. Colocava o avental que já tinha mais anos do que muitos netos e começava por escolher a melhor carne de vitela. Nunca era carne qualquer, era sempre tenra, cortada em cubos perfeitos, comprada no talho de confiança.
Depois, os legumes. Nada de coisas congeladas, ela ia ao quintal ou à feira escolher tudo com olhos de cozinheira de mãos experientes. Cenouras bem laranjas, ervilhas redondinhas e doces, batatinhas novas com casca fina, feijão verde cortado à medida certa. Tudo lavado, pelado e cortado com uma paciência que só as avós têm.
No tacho de ferro, aquecia um fio de azeite com uma folha de louro e alho esmagado. A carne era selada ali, até ganhar cor. Depois juntava a cebola picada, uma colher de polpa de tomate e um bom copo de vinho branco. Quando o líquido começava a ferver e a casa se enchia de um perfume quente e reconfortante, sabíamos que estava a caminho mais uma obra-prima.
Aos poucos, ela juntava os legumes, sempre por ordem, primeiro os que demoravam mais, depois os mais delicados. Temperava com sal, pimenta, e às vezes um toque de noz-moscada que dava aquele “não sei quê” que ninguém consegue imitar.
Quando finalmente chegava à mesa, a jardineira era mais do que um prato. Era sinónimo de família de emigrantes junta. A cada colherada ouvíamos a avó a dizer: “Comam bem, que ainda há mais".