O gaspacho é, para mim, muito mais do que um prato — é uma memória viva dos dias quentes de verão e das tradições alentejanas. Lembro-me de o comer desde criança, na casa da minha avó Maria, onde era chamado de Capacho.
Na sua versão mais simples e autêntica, era preparado apenas com água fresca, azeite, vinagre, sal, cebola e, claro, as sopas de pão bem alentejanas, cortadas com todo o cuidado. Muito raramente, se houvesse pepino no quintal ou se algum vizinho o oferecesse, também este entrava na taça.
Com o tempo, na casa dos meus pais, a receita foi ganhando novos ingredientes. Ao gaspacho tradicional juntaram-se o pepino, o tomate da horta cortado em pedaços e algumas rodelas de chouriço, que davam um sabor mais forte e reconfortante. Ao qual a avó Maria chamava o capacho dos ricos.
Naturalmente, as sopas de pão nunca podiam faltar (eram elas que davam sustento ao corpo). Ao longo do tempo foram se juntando mais ingredientes como o tomate maduro triturado, o pimento, o ovo cozido e os oréganos.Já na minha cozinha fui mantendo essa herança e acrescentei um toque pessoal, pedaços de pão de fermentação lenta, feito por mim e frito em azeite. Este detalhe dá-lhe uma textura crocante deliciosa e um aroma ainda mais envolvente.
Costumo preparar gaspacho nos dias quentes de verão, aqui em casa, e tornou-se também um dos pratos principais nas festas em casa de amigos — todos o esperam com entusiasmo. É uma forma simples e saborosa de partilhar memórias, afetos e raízes.