Spaghetti à Carbonara: uma história de afeto, identidade e descoberta.
Durante anos, a ideia de comer uma massa à carbonara me causava repulsa. O sabor forte do bacon e aquela textura que lembrava ovo mexido frito em gordura não me apeteciam nem um pouco. Para mim, era um prato pesado, sem encanto — até que tudo mudou.
Ao viajar para a Itália, meu paladar foi desafiado e, ao mesmo tempo, encantado. Descobri o guanciale, e com ele, a verdadeira alma da carbonara. A sutileza do sabor, a textura delicada, a harmonia entre poucos ingredientes — foi amor à primeira garfada. Foi ali que comecei a entender que a gastronomia é também uma linguagem cultural, afetiva, que nos transforma.
Anos depois, imigrando do Brasil para Portugal, fui redescobrindo a carbonara sob uma nova perspectiva: com ingredientes mais acessíveis e de qualidade surpreendente. O bacon português, menos gorduroso e mais saboroso, conquistou meu coração. O spaghetti Barilla, que antes parecia um luxo distante, estava ali nas prateleiras do Continente, a pouco mais de um euro — com direito a cupões que faziam minha alegria a cada compra. A cereja do bolo? O queijo Grana Padano, que antes era reservado para ocasiões especiais, agora se tornava parte essencial e de rotina da receita. Aqui em casa, ele virou o “queijo do Ni”, uma homenagem carinhosa ao meu marido, com quem partilho essa paixão.
Com o tempo, esse prato — que um dia rejeitei — se transformou em nossa marca familiar. A carbonara que preparo hoje carrega camadas de história: o sabor da descoberta na Itália, a acolhida em Portugal e o afeto compartilhado à mesa com quem amo. Tornou-se nosso ritual, nossa memória afetiva, nosso jeito de celebrar o cotidiano com simplicidade e autenticidade.
Esse prato é mais do que comida — é uma ponte entre culturas, um símbolo de transformação pessoal e um linguagem de amor servida em forma de massa.