Como descendo de famílias, que viviam maioritariamente do que criavam (galinhas, coelhos, porcos, etc...), sofria, ao ver que os meus animais de estimação (sim, porque era pequenina e brincava com eles no quintal), acabavam na mesa da cozinha, para nos servirem de alimento.
Como lá em casa éramos 6, todos ajudavam nas tarefas domésticas, inclusive nas matanças. Lembro-me, e talvez tenha ficado traumatizada por isso, quando o meu pai matava coelhos e nós é que os despíamos (tirar a pele). Enfim..., nunca os comi, simplesmente virava-me ao pão que tinha na mesa.
Após o meu casamento, fui ganhando alguma independência alimentar, no entanto, cá em casa, sempre foi um pouco difícil, porque o meu marido adora um bom bife, bem como todos os restantes familiares diretos (filhas, pais, irmão, sogros, cunhados, etc...) incluindo os nossos amigos.
Como referi, aquando da apresentação da minha receita, após sofrer um Burnout no final de 2019, decidi mudar radicalmente a minha vida, começando por me tornar vegetariana. Nessa altura, aos 45 anos e com 45kg, a minha filha mais nova, esteve internada durante o mês de março 2020, e como já não bastasse, ficamos confinadas às 4 paredes do quarto do hospital, por causa do Covid19.
Durante esse tempo, constatei que, em todo o hospital, só existiam duas pessoas vegetarianas, (eu e um paciente) e as comidas apresentadas eram sempre as mesmas, pois não estavam preparados para esta versão alimentar. Já não podia comer mais ovos com favas ou ervilhas.
Durante as possíveis idas ao refeitório, consegui confraternizar com uma das cozinheiras, que aceitou algumas ideias e começou a providenciar comidas alternativas, incluindo uma simples feijoada, mas sem enchidos. Senti-me muito feliz e até concretizada por ter conseguido alterar/mudar ideias e preconceitos sobre os vegetarianos, o que me fez agarrar ainda mais esse ideal.
Após o longo período de confinamento e assim que começamos a juntar-nos novamente com os familiares e amigos à mesa, porque, ``A Vida passa a comer´´, lolololol…fui, aos poucos, integrando as minhas refeições vegetarianas.
Apresentei um chili sem carne, mas divinalmente temperado e acompanhado com um simples arroz branco. Começou a ser o prato de eleição nos jantares, quer fora, quer dentro de casa, até o meu pai, que nunca se conformou com a minha mudança alimentar, não consegue resistir.
Como comecei a fazer cada vez mais quantidade desse chili, porque era a primeira travessa a ficar vazia, tal foi a quantidade, que um dia sobrou. Como nada se perde, tudo se transforma J, ralei-o e transformei-o em puré. Só assim, já era saboroso para acompanhar com tortilhas, mas, surgiu a ideia de juntar ao puré enchidos, (como uma típica feijoada) mas que eu também pudesse comer.
No hiper Continente, descobri a alheira vegetariana, que adoro desfazer na frigideira e simplesmente juntar ovos. Quanto ao tofu, não sendo para mim um alimento de eleição, tinha de o tornar mais apetitoso, ralei, temperei e levei a assar, tornando-o quase como um petisco crocante e salgado. Juntando esses enchidos ao dito puré de chili, fez com que a típica feijoada se transformasse num prato vegetariano e inovador (Crumble de enchidos vegetarianos com puré de chili)
Atualmente, gosto de partilhar receitas com as minhas colegas que, por vezes, servem de ``cobaias´´ lolololol… mas até agora, o feedback tem sido bastante positivo. Lá por casa, as refeições continuam variadas, mas não faltam pratos vegetarianos, que são cada vez mais bem-sucedidos e (a)provados por todos J.